Conversa de Kajuru ao telefone com Bolsonaro tem vários crimes que o STF deve investigar e punir
Rafael Jasovich*
Quando duas bestas quadradas se encontram o que dá? Resulta na conversa ao telefone entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO).
Não se sabe ao certo como começou, mas o desfecho não podia ser outro: o presidente, acusado de não dar crédito para as suas iniciativas, teve uma conversa com o senador divulgado em suas redes sociais.
Segundo Kajuru, o objetivo da divulgação foi para mostrar aos seus eleitores o respeito de que desfrutava junto ao mandatário.
Só não considerou – alguém supõe que Kajuru considere alguma coisa? – o fato de ambos cometerem diversos crimes no diálogo que durou quase sete minutos, sendo o principal conspirar contra ministros do Supremo Tribunal Federal.
Alguns dizem que tudo não passou de armação.
Por essa tese, Bolsonaro e Kajuru teriam combinado o teatro para mandar recados ao Congresso e ao Supremo.
Só uma mente muito criativa para imaginar que o senador e o presidente são capazes de combinar algo.
Ambos trilharam suas carreiras na base do vale-tudo: Kajuru já foi jurado de morte pelas bobagens que fala no rádio; Bolsonaro chegou a dizer que o Brasil precisava de limpeza social.
“Só vai mudar quando partirmos para uma guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil”, disse o presidente em um programa de TV.
A polêmica entre ambos, amplamente discutida nessa segunda (12), resultou num pedido de representação do filho do capitão contra o Kajuru. Na manhã de terça (13), numa entrevista do radialista a uma rádio paulista, Kajuru diz que suas relações com o mandatário estão rompidas.
Ele explicou os motivos de ter ligado para o presidente.
“Liguei para defender a minha honra e a de meus colegas senadores, desrespeitados por ele [Bolsonaro] e chamados de canalhada”.
Kajuru, que se disse amigo de Bolsonaro, agora cortou relações:
“Nunca mais falo com ele”, criticou. “Está rompida a relação. A relação que era boa, cordial e respeitosa, acabou. Eu não guardo rancor. Não serei contra o governo dele, porque ser contra ele é ser contra o Brasil. Mas a relação está rompida”.
Em que pese a gravidade dos diálogos divulgados, separar Bolsonaro de Kajuru não é exatamente uma má ideia.
O melhor seria mandar cada uma para sua casa, de forma que parem de combinar bobagens e com isso criar mais problemas para um país desgovernado.
Como isso não será possível, dado que ambos estão aí, firmes e fortes, a despeito de tudo, fica de bom tamanho a separação.
A esculhambação da República, já bastante esculhambada, tem mais um capítulo. O STF deveria investigar e punir.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional
No destaque, Bolsonaro e Kajuru: amigos não mais para sempre (Foto: Reprodução)