Natália Pasternak, microbiologista, também critica a imunização de profissionais de saúde que não estão na linha de frente em detrimento de idosos
Foto: Reprodução/CNN
Preocupada com o ritmo lento da vacinação no Brasil, a doutora em microbiologia Natalia Pasternak criticou a falta de clareza do Plano Nacional de Imunização (PNI) na definição de grupos prioritários.
Segundo ela, foi o que levou governos estaduais e prefeituras adotarem critérios diferentes, com inclusão de grupos de profissionais que não deveriam figurar nessa condição.
“Cada estado e município tem o poder discricionário para definir como será a distribuição de imunizantes entre esses grupos e acabou virando essa bagunça”, disse a microbiologista em entrevista ao programa CNN Nosso Mundo.
“É uma pena porque incluíram vários profissionais que não precisavam necessariamente ser contemplados nesse primeiro momento, como fisioterapeutas que não trabalham na linha de frente, que trabalham em casa, nutricionistas que estão também afastados do atendimento, veterinários. Teve algumas cidades que até profissionais do esporte foram contemplados”, criticou.
Para a cientista, se ainda não há vacina em abundância, não faz sentido priorizar esses profissionais em detrimento dos idosos, que podem morrer sendo contaminados pelo vírus.
“Na escassez, temos que priorizar a imunização dos que correm mais riscos de morrer com a contaminação. São prioridades que deveriam ser respeitadas, que são os idosos e as pessoas com comorbidades”, afirmou na entrevista.
“Só depois é que deveriam imunizar os profissionais que não estão na frente do enfrentamento à pandemia, nunca em detrimento do idosos, como muitos municípios estão fazendo, com risco de aumentar ainda mais os óbitos”, criticou.
Fatos
Foi o que ocorreu em Itabira, conforme informou este site Vila de Utopia em reportagem publicada no sábado (27). Leia aqui.
Por uma interpretação extensiva das diretrizes do PNI, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) priorizou a vacinação de profissionais de saúde, o que está de acordo com o PNI. Só que incluiu até mesmo quem não está na linha de frente no enfrentamento ao novo coronavírus.
E também imunizou profissionais que estão ocupados em serviços burocráticos e até mesmo quem não mais atua na área. Com isso, atrasou a vacinação de idosos.
De acordo com o vacinômetro, da SMS, do dia 23 de março, de um total de 9.354 doses de vacinas já aplicadas em Itabira, 5.767 foram destinadas a profissionais de saúde.
Representam 61,6% do total de imunizantes que aportaram no município. Desses profissionais, 2.077 já receberam a segunda dose.
Isso enquanto o número de aplicações em idosos, até aquela data, havia atingido 3.165 pessoas. Representam 33,8% do total das vacinas que chegaram a Itabira. E apenas 410 idosos havia recebido a segunda dose até aquela data.
Outro lado
Para a definição de grupos prioritários, a SMS assegura que são observadas as diretrizes da Campanha Nacional de Vacinação, com determinações do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. E que o Plano Municipal de Imunização segue essas diretrizes.
A SMS respondeu às críticas deste site, mas em termos vagos. “A respeito da matéria publicada neste sábado pelo site Vila de Utopia, a Secretaria Municipal de Saúde comunica que não é verdadeira a informação de que o município preferiu vacinar profissionais de saúde em detrimento dos idosos.”
Entretanto, a SMS não entrou no mérito da crítica, que não se dirigiu à imunização de profissionais que estão na linha de frente, mas por ter incluído os que não atuam diretamente no combate à pandemia, entre pessoal administrativo e até quem há muito se encontra afastado da área de saúde.
“A SMS ressalta que a primeira remessa de vacinas chegou no município de Itabira em 18/01/21 para o público específico de profissionais de saúde. Apenas em 11/02/21 recebemos doses para idosos”, defendeu-se
“Os quantitativos de vacina sempre são acompanhados da especificação do público alvo definido pelo Estado. Essa orientação, inclusive, consta na nota fiscal do produto recebido, conforme pode ser visto no campo de observação da nota fiscal”, acrescentou a SMS, que apresentou nota fiscal de remessa de imunizantes a Itabira, com data de 2 de março.
Nesta nota, consta que os imunizantes serão destinados em “100% aos idosos de 85-89 anos e 8% aos trabalhadores de saúde (sic).” Como se vê a conta não fecha. Leia a posição da SMS com a nota fiscal aqui.
Lista de imunizados
Além disso, a crítica deste site se dirigiu aos critérios definidos para o primeiro lote de imunizantes que chegaram à cidade. Faltou, portanto, apresentar essa nota fiscal e a relação dos que foram imunizados.
Espera-se que a lista com os nomes, idade e profissão de todos os que já foram imunizados seja apresentada à Comissão Especial da Câmara Municipal, instituída para acompanhar e fiscalizar a campanha de vacinação. Isso para que todas as dúvidas e critérios sejam esclarecidos.
A boa notícia é que Itabira está na etapa de vacinação de idosos com idades entre 70 e 74 anos, além de quilombolas, “grupos prioritários que seguem exatamente a orientação da última remessa recebida pela Secretaria Municipal de Itabira.”
E ainda, por já ter chegado a Itabira, no sábado, mais um lote com doses de vacinas para a faixa etária de 65 a 69 anos.
“Novo normal”
Que chegue logo volume suficiente de vacinas para imunizar todo mundo e o mais rápido possível. Isso para pôr fim à pandemia e enfim chegar o “novo normal”.
“Só com a vacinação em massa, o que só deve ocorrer depois do meio do ano, é que vamos ter queda significativa no número de novos casos e de mortes. Só então o abraço poderá ser novamente liberado”, prevê Natalia Pasternak.
Mas mesmo o abraço, defende a cientista, somente deve ocorrer com os cuidados preventivos que precisam continuar mesmo depois da imunização em massa.
“É importante ter consciência de como são transmitidas as doenças respiratórias. Devemos seguir o exemplo dos países asiáticos, onde se você está com resfriado, usa-se máscara antes de pegar o transporte coletivo. É um sinal de respeito ao próximo”, é o que a cientista recomenda como meio de impedir o surgimento de novos coronavírus ainda mais graves e letais.
Da mesma forma, o uso frequente de álcool em gel, ou de água com sabão para higienizar as mãos. a boca e os olhos, deve fazer parte desse “novo normal”. São cuidados preventivos para reduzir a transmissão de outras doenças, não só da Covid-19.
Para ela, esses novos hábitos de prevenção devem permanecer mesmo depois de vencida a pandemia, como a história já ensina e registra. “Depois da aids, o sexo seguro foi implementado como prática comum e nos adaptamos. Vamos nos adaptar a esses novos hábitos também”, é o que acredita e espera a microbiologista Natalia Pasternak.
Leia mais e assista a entrevista na CNN aqui.
Carlos, cadê o secretária de Saúde do município ? Até agora não apareceu nas matérias aqui da Vila.