CDL insurge contra medidas restritivas, ataca o prefeito de Itabira e filiados rebatem: “não nos representam”

Numa carta de repúdio em que se utiliza de sofismas, desvirtuando e ignorando a realidade avassaladora da pandemia, dirigentes da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), de Itabira, insurgem-se contra as medidas restritivas, com duro ataque ao prefeito Marco Antônio Lage (PSB).

Como ativistas, manifestam “o sentimento de total repúdio às medidas ditatoriais e inconsequentes (sic) tomadas pelo senhor prefeito de Itabira neste momento difícil em que vivemos”.

Classificam as medidas restritivas ao comércio classificado como não essencial pelo programa Minas Consciente, como sendo um “exagero crescente, atormentador e gradativo de medidas inconstitucionais e intempestivas que vêm sendo impostas ao povo itabirano.”

E pedem o fim dessas medidas, esquecendo-se que a vida é direito inviolável. E ao Estado cabe assegurá-lo por todos os meios, conforme está inscrito no artigo 5º da Constituição Federal, antes mesmo da liberdade, igualdade, segurança e da propriedade.

Como liderança do comércio em Itabira, a CDL se apresenta como defensora dos mais humildes, “dos pequenos comerciantes, que dependem de pequenas vendas para a sobrevivência e não se sustentam com aglomerações.”

Por esse sofisma, que é parte verdade pelas dificuldades que todos estão passando, esquecem os dirigentes lojistas que o fechamento temporário das atividades não essenciais é determinação da onda roxa, válida para todo o estado, por ordem do governador Romeu Zema (Novo).

O prefeito, caso queira, é de sua autonomia ser mais restritivo. Mas nunca leniente ao ponto de desrespeitar o que é regra para impedir a propagação vertiginosa do novo coronavírus, que já vitimou 161 itabiranos pela Covid-19, agora com as suas variantes mais letais.

Antecedentes

Desde março do ano passado, a CDL de Itabira vem investindo contra as medidas restritivas. Conseguiu vitórias parciais na administração passada, para não perderem vendas na véspera dos dias das Mães, da Criança, no Natal.

Mas antes, tentaram burlar o decreto assinado pelo ex-prefeito Ronaldo Magalhães (PTB), em 19 de março do ano passado.

Mais uma vez, por meio de sofismas, interpretaram que as medidas restritivas não se aplicavam ao comércio de rua, que é maioria entre os lojistas em Itabira.

Pretendiam, como agora, manter o comércio funcionando como se nada de anormal estivesse ocorrendo.

Além do elevado número de mortes, sobretudo nos últimos dias, que por si justifica o arremedo de lockdown municipal, que é sequer um “tranca rua”, tem-se ainda uma baixa taxa de isolamento social de apenas 40%.

Some-se ainda o colapso que vem se arrastando desde 5 de março com a ocupação de todos os leitos de UTIs e de enfermaria nos dois hospitais da cidade. Pacientes acometidos pela doença em estado grave aguardam atendimento no Pronto-Socorro Municipal.

Tiro no pé

A manobra das lideranças dos lojistas ficou sem efeito na frustrada primeira tentativa de burlar as medidas restritivas, como por certo irá se repetir dessa vez. “Todo mundo vai ter que se reinventar. Infelizmente, essa é a condição que nos foi imposta”, lamentou, naquela ocasião, o presidente da CDL, Maurício Martins, ao resignar-se por ter de manter as portas de suas lojas fechadas.

A invenção desses lojistas foi, mais uma vez, atacar as medidas restritivas do prefeito Marco Antônio Lage, que não deve ceder às pressões. “Retire, senhor prefeito, o exagero crescente, atormentador e gradativo de medidas inconstitucionais e intempestivas que vêm sendo impostas ao povo itabirano”, exigem os signatários da carta de repúdio, em tom de ameaça.

Da palavra à ação, alguns comerciantes, num ato de desobediência civil, primeiro dissimularam vendas, fazendo-as às escondidas, mantendo portas semiabertas, desrespeitando decretos.

Isso enquanto outros comerciantes ingressaram e obtiveram na justiça, liminarmente, sentença favorável à reabertura. A prefeitura já recorreu da sentença – e com certeza não lograrão êxito, até para salvaguardar a saúde dos comerciários e de incautos compradores que saírem às ruas com risco de contaminação pelo vírus que deixa sequelas e mata.

O mais hilário da carta aberta é quando, ao final, os lojistas ameaçam o prefeito com um golpe. “Que Deus não permita a continuidade de tão desastroso início de administração!” Leia a íntegra aqui.

Filiados reagem na página da CDL na rede social

 Não são todos comerciantes que compartilham desse desrespeito à saúde, à vida e à memória dos mortos que foram vencidos pela Covid-19. Muitos reprovaram o posicionamento da CDL.

Confira alguns comentários:

“É uma vergonha que um órgão que se diz tão sério, na pessoa de seu presidente, faça uma carta de repúdio por atitudes tão sensatas que o prefeito está tomando. A CDL é grande responsável pela situação em que nossa cidade se encontra hoje. É necessário que se faça isolamento sim, é necessário que se feche comércio sim… Estamos falando de VIDAS… Se não perderam alguém da família ainda para esse maldito vírus, rezo para que não percam. Porque defunto não compra mercadoria, não gasta dinheiro. Envergonho-me de ter em minha cidade um órgão tão capitalista, inconsequente e desrespeitoso com a VIDA.”

 “Só pode ser uma piada. Com a situação da saúde, totalmente colapsada, com a quantidade de mortes por covid, e com a gravidade da situação geral, a prioridade é deter a propagação do vírus. O comércio infelizmente não respeita as normas sanitárias. Cansei de entrar em lojas e não ter álcool, nem distanciamento e nem tudo que se comprometeram a fazer. Fechar é a última possibilidade para tentar salvar vidas, que é o bem mais precioso, pois não é recuperável.”

 “Toma vergonha na cara e tira isso das redes sociais logo e se retrate. Se apagar ainda dá tempo. Às vezes dá vergonha de ler certas coisas, dinheiro acima de vidas humanas. Chega a dar nojo. Eu vi uma moça no fim de ano falar que eles mandam funcionar tudo, mas não botam a cara de fora de casa.”

 “Eu tenho fotos deles trabalhando sem máscaras dentro da secretaria da CDL.”

“Essa nota da CDL é, no mínimo, inconsequente. Mortos não compram. A CDL vai arcar com as consequências desta insanidade sugerida? Deveria confortar as mais de 160 famílias que tiveram um ente querido perdido. Vida não se compra. É hora de parar. É hora de refletir. É hora de chorar pelas vidas que se foram e clamar pela misericórdia! É hora de ajudar a conter a pandemia e apoiar aqueles que se importam com as vidas.”

“A CDL está menosprezando a pandemia. Tantas pessoas contaminadas, hospital lotado. E tantas famílias enlutadas.”

“Triste ver esta nota da CDL. Eu me pergunto se algum parente desses dirigentes está lutando pela vida ou se já perderam alguém para a doença. Vidas importam e a economia se recupera. O prefeito está tomando as medidas necessárias. Vários comerciantes não cumprem o decreto e deixam seus funcionários em lojas fechadas para atender quando o cliente chama. A falta de consciência está agravando a situação na cidade. Porque ao invés de críticas, a CDL não se une à prefeitura para juntos vencermos este momento tão grave na nossa cidade. E aí, sim, poderá reabrir toda a cidade.”

“A nota, por si só, já é vergonhosa. Expressa uma posição que sequer é unânime entre os filiados. Se já não bastasse, coloca cidadãos como remetente? Tem que abaixar a bola urgente, voltar pro mundo real. Se fizerem pesquisa, garanto que a maioria absolutamente não apoia.”

“A CDL publica uma carta de repúdio e coloca como remetente CIDADÃOS ITABIRANOS. Me tira dessa. Não escrevi carta nenhuma e não compactuo com ela. CDL não me representa.”

“O problema que vejo é que só o pequeno comercio paga pela irresponsabilidade de muitos. Fica claro pelos números que comércio não é o foco de contaminados. Desde o inicio do mês está fechado e o número de contaminados só aumenta. Se tivesse fazendo efeito concordava, mas a realidade é que não está. Ontem mais de 300 contaminados em 24 hs. Alguém me.explica isso? Se.o comércio esta fechado, entãoo onde.esse.povo esta indo? Não adianta fechar o comércio só para.mostrar que fez algo. Isso não é gestão. Empresas grandes como bancos, supermercados e outros têm mais aglomeração de pessoas do que uma loja. E as pessoas na verdade não estão nem ai. Muitos viajando,tirando até ferias no meio desse caos. Mas.como sempre o culpado é o comércio. E porque não proíbe a cerveja? Desde quando cerveja é essencial ? Fecha o que convém e proíbe o que convém também. Sem.bebida o povo não reúne para ir a sítio e nem fazer churrasco. A culpa das contaminações é do próprio povo que não cumpre as.regras e não dos estabelecimentos. Não acho justo comércio pagar essa conta.”