Nada muda no comando do Ministério da Saúde: quem continua mandando é o capitão Bolsonaro

Rafael Jasovich*

A escolha do cardiologista Marcelo Queiroga para o comando do Ministério da Saúde não foi bem recebida por integrantes da base aliada de Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara dos Deputados.

As sugestões feitas pelo bloco do centrão foram ignoradas por Bolsonaro, prevalecendo a indicação de um nome do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), primogênito do presidente.

“Os médicos têm autonomia para prescrever”, disse Marcelo Queiroga, em sua primeira entrevista como ministro, referindo-se ao tratamento precoce com um coquetel de medicamentos sem eficácia comprovada e que pode ter consequências graves à saúde.

Para ele, lockdown só deve ser adotado em “situações extremas”. Já a cloroquina é para todos que tiverem Covid-19.

Sob pressão do centrão, Bolsonaro anunciou na segunda-feira (15) a saída do general Eduardo Pazuello, enquanto partidos da base aliada apoiaram dois nomes para o lugar do militar, que é investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Os deputados do centrão ainda tentaram indicar outro nome, mas Bolsonaro se antecipou e escolheu Queiroga, indicado pelo seu filho mais velho. Segundo assessores palacianos, o novo ministro é amigo da família da mulher do senador.

Um influente político do Centrão resume: “Bolsonaro quis escolher um nome sozinho. Não tem problema. Mas terá que acertar na seleção do seu quarto ministro da Saúde porque, caso seja necessário fazer uma nova troca, o País não vai parar para discutir quem será o quinto, mas sim o próximo presidente da República.”

Na versão desse deputado, ninguém mais ficará brincando de escolher ministro.

O país está submetido à ignorância e à perversidade de um ser que nega a ciência e flerta com um golpe ditatorial. Ao novo ministro, Bolsonaro: “não venha adotar medias que tirem meus votos no Nordeste.”

É o que para ele importa: votos para a sua reeleição em 2022. Vidas não importam.

No destaque, o novo ministro Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, para quem, antes de ser ungido, a cloroquina não entraria em seu arsenal contra a Covid-19. Mas já indica que mudou de ideia: “quem define a política nacional de saúde é o presidente.” (Foto: Divulgação)

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

 

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