Comissão Covid-19 da Câmara Municipal de Itabira vai investigar denúncias de fura-fila
Uma comissão parlamentar foi nomeada pelo presidente da Câmara, vereador Weverton “Vetão” Andrade (PSB), especialmente para acompanhar a política pública e as ações de enfrentamento à pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-1) e suas variantes.
A comissão é instalada no pico da pandemia, com os leitos de UTIs dos dois hospitais 100% ocupados e já com fila de espera no Pronto-Socorro Municipal de pacientes graves aguardando internação.
As enfermarias dos hospitais Nossa Senhora das Dores (HNSD) e Carlos Chagas (HMCC) também estão abarrotadas de pacientes.
É também instada quando cresce exponencialmente o número de casos confirmados de pacientes infectados pelo vírus no município.
Eram 9.215 confirmados em 3 de março, agora já são 9.787 casos. Portanto, um salto de 6,2% em uma semana, mesmo já com o lockdown parcial em vigor desde segunda-feira (8).
É fato que o tempo é ainda curto para as medidas mais restritivas surtirem efeito.
Isso até mesmo porque ainda tem muita gente na cidade que não leva a pandemia a sério, quando deveriam levar pelo risco que impõe à saúde das pessoas e que causado muitos óbitos.
No mesmo período, o número de óbitos em Itabira saltou de 79 para 91 mortes por Covid-19, com registro de 12 mortes em uma semana.
Fura-filas
Na sexta-feira (5), o que há muito se temia, aconteceu: os hospitais Nossa Senhora das Dores e o Carlos Chagas já estavam com 100% de ocupação de leitos em suas UTIs. Essa situação que já evidencia o colapso do sistema de saúde em Itabira, permanece nesta quinta-feira (11).
É nesta conjuntura pandêmica acelerada que os vereadores nomeados para a comissão especial de investigação Covid-19 terão que debruçar e acompanhar de perto. Por exemplo, como está a campanha de imunização no município e a denúncia de fura-filas.
Solicitada por este site Vila de Utopia no início da campanha, a Prefeitura não apresentou a lista dos profissionais de saúde que foram imunizados com o primeiro lote de 1 mil vacinas, exclusivo para quem estivesse na linha de frente no enfrentamento à pandemia.
Alegou que, por força de lei, não poderia revelar esses nomes. Mas informou que a lista foi encaminhada ao Ministério Público, que também acompanha a política e os serviços públicos de enfrentamento à pandemia no município. Leia mais aqui para saber como foi início da campanha em Itabira.
É o caso de a comissão especial da Câmara iniciar os seus trabalhos solicitando essa lista. Isso para que seja averiguada a denúncia de que houve fura-filas nos dois hospitais. Os relatos são de que pessoal da área administrativa foi vacinado naquele primeiro momento da campanha, assim como outros profissionais de saúde que não estavam na linha de frente.
É assim que na campanha de imunização chama atenção a discrepância entre o número de profissionais de saúde imunizados se comparado com os idosos. Desde o início, 4.815 doses foram aplicadas em profissionais de saúde, incluindo a segunda dose em 1.574 que já devem estar imunizados.
Isso enquanto apenas 1.443 doses foram aplicadas em idosos, sendo que apenas 1.164 pessoas desse grupo prioritário receberam a segunda dose, conforme informa o Vacinômetro de quarta-feira (10).
Investigações
Não há espaço para dúvidas e desconfianças nas campanhas de imunização, como bem afirmou o presidente da Assembleia Legislativa de Minas, deputado Agostinho Patrus (PSB), que já acena com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar casos de fura-fila em Minas Gerais.
A denúncia envolve, inclusive, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, que, teria sido imunizado sem que estivesse no grupo prioritário. Disse que foi para “dar exemplo”, mas escondeu esse mal feito, só agora revelado com a denúncia de inúmeros casos de fura-filas no estado.
Que a comissão especial de vereadores apure também se houve ou não fura-fila em Itabira, o que deve ser feito em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais.
Sistema de saúde
Outra pauta importante é a premente necessidade de aumentar o número de leitos de UTIs. Mas é importante ressaltar, como disse a secretária municipal de Saúde, Eliana Horta, que só isso não basta.
Ocorre que os hospitais estão tendo dificuldades para contratar profissionais de saúde, principalmente técnicos e auxiliares de enfermagem.
Lembrando ainda que não basta contratá-los para já iniciar as atividades nas UTIs, pois muitas vezes é preciso treiná-los para a correta execução de complexos procedimentos.
No hospital Nossa Senhora das Dores tem uma UTI de campanha instalada e que está parada. É o caso de os vereadores procurarem saber porque ainda não entrou em operação. E o que é preciso para que entre em funcionamento para receber pacientes graves que estão na fila de espera.
Mas a abertura de novas UTIs não é o mais importante para salvar vidas, como salienta a médica infectologista Andréa Cabral. É que quando o paciente chega a ser internado em UTI, o índice de óbito alcança 85%. De qualquer forma, não seria o caso de colocar essa UTI de campanha para funcionar?
Outra medida importante, e que pode desafogar o pronto-socorro municipal, talvez seria aumentar o atendimento aonde o povo está. Não seria também o caso de aumentar o atendimento de pacientes com os primeiros sintomas nos PSFs?
Isolamento
Tudo isso deve ser pautado pela comissão especial Covid-19 da Câmara Municipal. Assim como é importante propor outros meios para impedir, ou pelo menos atenuar, a propagação do vírus no município, atenuando a curva de casos positivos e diminuindo o número de óbitos.
Para isso ocorrer, a Andréa Cabral insiste com a necessidade de todos manterem o isolamento social, também com o fim das aglomerações.
É obrigatório manter-se em isolamento domiciliar quem já testou positivo, como também os que têm sintomas da doença – e mesmo quem não tem sintomas, mas que manteve contato com quem testou positivo.
Ou seja, o que mais salva vida é a pessoa não se infectar. E se infectar, manter-se em isolamento, para que assim reduza a taxa de transmissão.
Só com esse conjunto de medidas, sem tratamento precoce com placebos que não têm eficácia, é que será reduzida a demanda por internações e o número de mortes.
Para isso acontecer é preciso que a população adote em massa as medidas protetivas individuais e coletivas, pelo menos até que cheguem vacinas suficientes para todos que devem ser imunizados.
Transparência
Os vereadores Bernardo de Souza Rosa (Avante), que vai presidir a comissão especial de Covid-19 da Câmara Municipal, juntamente com José Júlio “Combem” Rodrigues (PP), relator, e Carlos Henrique de Oliveira (PDT), vogal, terão muito trabalho pela frente.
Que não cruzem os braços os suplentes Sebastião “Tãozinho” Ferreira Leite (Patriota), Rosilene Félix Guimarães (MDB) e Sidney Marques Vitalino Guimarães (PTB), além de todos outros vereadores.
Fiscalizar e prestar contas à sociedade das políticas públicas em curso no município é obrigação de todos os edis. Que assim seja – e se espera, sempre. Que os vereadores apresentem os resultados com ampla divulgação.