Por meio de helicópteros, Vale realiza aerolevantamento das condições de segurança de suas barragens em Itabira

Desde sábado (23) a mineradora Vale está fazendo o aerolevantamento de dados de suas barragens e diques de contenção de rejeitos em Itabira. Para isso, são utilizados sensores eletromagnéticos, que são operados por meio de helicópteros.

O levantamento será desenvolvido por um período de 40 dias, no horário de 7h às 17h. Segundo a assessoria de imprensa da mineradora, a tecnologia é inédita na mineração.

O objetivo é ter mais agilidade, acessibilidade e precisão nas informações coletadas acerca das barragens, diques, reservatórios – e também das cavas da mineração.

E assim, de posse desses dados, reforçar, no que for preciso, o controle dessas estruturas, e assim aumentar a segurança das comunidades vizinhas e de suas operações.

Ainda de acordo com a empresa, o levantamento de dados é preventivo. Visa ter um melhor conhecimento das condições de segurança dessas estruturas. O mesmo levantamento está sendo feito também nas outras estruturas da empresa no Quadrilátero Ferrífero.

“O aerolevantamento é realizado dentro dos padrões de segurança e com as autorizações previstas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e Ministério da Defesa”, salienta a assessoria de imprensa da Vale.

Pesquisa avançada de monitoramento de barragens é feita por radar via satélite. Já testada, ainda não é empregada pela mineração

Imagem de satélite registra movimentação dos rejeitos depois do rompimento da barragem (Foto: NASA/Galileu). No destaque, a barragem do Pontal, em Itabira, primeira de rejeitos no país (Foto: Carlos Cruz)

O emprego de tecnologias de ponta deve ser uma busca constante na área de mineração, atividade que é essencial para o bem-estar social e para o desenvolvimento, mas que é também de grande risco de morte e de danos ambientais irreparáveis.

O caso mais tristemente célebre foi a ruptura da barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho,  em 25 de janeiro de 2019 – e que matou 269 pessoas,  deixando um rastro de destruição permanente no vale do rio Paraopeba, afluente do São Francisco.

Segundo reportagem da revista Galileu, um estudo desenvolvido pela Universidade de Nottingham e pela Universidade de Durham, ambas no Reino Unido, teria revelado que o rompimento da barragem poderia ter sido previsto com a tecnologia de monitoramento correta.

Na pesquisa, os cientistas testaram uma técnica nova de monitoramento chamada imagem de radar por satélite (InSAR), tendo sido “atualizada” com um sistema mais avançado chamado Intermittent Small Baseline Subset (ISBAS).

De acordo com os cientistas, uma das vantagens da pesquisa em comparação com as que são realizadas em solo, é que, ao usar algumas das técnicas InSAR, é possível superar limitações em terrenos com vegetações.

Diferentemente dos sensores em solo, a nova tecnologia por satélite permite ter uma visão de cima para baixo das estruturas monitoradas. Oferece assim uma imagem mais completa dos movimentos do solo com precisão milimétrica.

De acordo com os cientistas, não é incomum que essas barragens se movam. Conforme mais material é adicionado e se compacta, elas podem se deslocar lentamente. “A aceleração desse processo é um precursor de que um problema pode acontecer”, advertem.

Como explicou Stephen Grebby, líder do estudo, “a maioria das empresas de mineração atualmente depende de sensores baseados no solo para monitorar a estabilidade das barragens”, afirmou. “No entanto, esses normalmente oferecem uma cobertura inadequada de medições em toda a barragem, o que pode dificultar a detecção de movimento ou outros sinais de perigo.

No caso de Brumadinho, os cientistas contam que, ao aplicarem a nova técnica, constataram que diferentes áreas da barragem se moveram em taxas diferentes. E que algumas delas aceleraram repentinamente nos dois meses que antecederam ao colapso.

Prevenção

Imagens de satélite mostram a movimentação dos rejeitos da barragem de Brumadinho (Foto: Grebby et al./Communications Earth & Environment 2021/)

A equipe concluiu que, embora a mineradora tenha empregado métodos usuais de monitoramento, a tecnologia mais avançada de monitoramento por satélite poderia ter previsto a iminência do colapso da barragem – e assim, poderiam ter sido tomadas medidas preventivas, como a evacuação de trabalhadores e moradores vizinhos a tempo de todos se salvarem. E até mesmo evitando-se a ruptura com medidas emergenciais de controle da estrutura.

“Se monitorado rotineiramente, usando a técnica ISBAS InSAR, a data do rompimento poderia ter sido prevista cerca de 40 dias antes do colapso, dando tempo para que um aviso fosse feito de que a barragem estava se tornando instável”, afirmou Grebby, na reportagem da revista Galileu

“Isso poderia ter levado a um monitoramento mais aprofundado ou outras medidas de mitigação para evitar a perda de vidas e desastres ambientais que tragicamente se desenrolaram.”

Semelhança

Técnica semelhante está sendo empregada agora pela Vale para monitorar as suas estruturas no Quadrilátero Ferrífero, com o aerolevantamento de dados de suas barragens e diques de contenção de rejeitos por meio de sobrevoos de helicóptero.

Já com a técnica de monitoramento por meio de radar via satélite (InSAR), “atualizada” com um sistema mais avançado chamado Intermittent Small Baseline Subset (ISBAS), o levantamento das condições de segurança e o deslocamento dessas estruturas pode se tornar permanente e mais preciso.

Para isso, os cientistas já desenvolvem um software a partir da tecnologia que será oferecida à indústria de mineração. A proposta é ter um sistema de alerta rápido e confiável para prever o risco de colapso iminente em barragens de rejeitos.

A nova técnica, porém, não dispensa o monitoramento por sensores em solo, enquanto as técnicas avançadas de InSAR seriam uma adição valiosa ao monitoramento das condições de segurança dessas estruturas.

A pesquisa foi publicada na edição de janeiro do periódico Communications Earth & Environment

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