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“É um absurdo que ainda se morra de câncer de colo de útero”, diz médico em conferência

No Brasil, 16 mil mulheres são acometidas todos os anos pelo câncer de colo de útero, com registro de ocorrências mesmo em regiões onde o acesso à prevenção é maior. “É um absurdo que ainda se morra dessa doença no país”, considera o médico obstetra Álvaro Alves, professor da UFMG, coordenador do internato rural e que há 27 anos atende nos distritos de Senhora do Carmo e Ipoema.

Álvaro Alves condena o excesso de cezarianas e lamenta a morte por câncer de colo de útero (Fotos: Carlos Cruz)

“Para detectar a doença precocemente é preciso um instrumental mínimo, um palito de picolé para recolher o material”, disse ele, que participou da I Conferência Municipal de Saúde da Mulher, realizada ontem (29), no teatro do centro cultural. O câncer de colo de útero é a terceira neoplasia maligna no país entre as mulheres, só perdendo para os cânceres de pele e de mama.

O médico reconhece que houve avanço na prevenção do câncer de útero desde 1999, quando foi lançado um programa para esse fim. Entre os avanços, ele cita a vacinação contra o HPV, disponível para meninas de 9 a 14 anos e para meninos de 12 a 13 anos, além de portadores de HIV e de outras doenças imunossupressores com idade entre 9 e 26 anos. “A campanha de vacinação foi muito bem no ano passado, mas este ano houve uma queda na adesão”, lamenta.

Álvaro Alves ministrou palestra sobre Doenças que mais acometem as mulheres. A conferência foi promovida pela Secretaria Municipal da Saúde, seguindo determinação do Ministério da Saúde. Como parte da programação, amanhã será realizada a I Conferência Municipal de Vigilância de Saúde e na quarta-feira a X Conferência Municipal de Saúde, sempre na parte da tarde, no centro cultural.

“O objetivo é apresentar as nossas propostas para melhorar o atendimento à saúde da mulher e do SUS nas conferências estadual e nacional, além de eleger os delegados que irão representar Itabira”, explica a assistente social Rosa Cristina de Faria, presidente do Conselho Municipal de Saúde. “Vamos debater também a qualidade dos alimentos e como melhorar a vigilância sanitária no município”, complementa.

Câncer de mama

Público prestigiou a Conferência Municipal de Saúde: teatro cheio

Embora o câncer de pele seja o que mais acomete as mulheres, não é o que mais causa mortes. O mais letal é o câncer de mama, a segunda neoplasia com maior incidência – de cada dez mulheres que nascem, uma vai ter câncer de mama. “É o câncer que mais mata mulheres no Brasil e no mundo. E é de difícil prevenção”, diz o médico Álvaro Alves.

No país, 57 mil novos casos de câncer de mama surgem por ano. É mais comum em regiões industrializadas, embora fatores genéticos também sejam preponderantes. Outros riscos são o sedentarismo, o consumo de gorduras saturadas, entre outros fatores ambientais.

“A mulher que retarda a gravidez acaba sendo mais propícia. A amamentação protege a mulher do câncer de mama”, sustenta o palestrante, para quem, embora exista medicamento vendido pela indústria farmacêutica como panaceia para a doença, os seus resultados não foram comprovados.

Cesarianas

O médico aponta o excesso de cesarianas como outro grande malefício causado à saúde da mulher. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de cesáreas não deve ultrapassar 15%. No Brasil, esse índice já é superior a 50%, tendo aumentado também na zona rural.

Segundo Álvaro Alves, trata-se de uma intervenção cirúrgica no corpo da mulher, com grande risco de hemorragia e infecção. “As mulheres passaram a acreditar que a cesariana é como abrir um fecho éclair (zíper), retirar o bebê e costurar. Não é nada disto, é uma intervenção cirúrgica de médio porte. São abertos sete espaços até chegar ao bebê”, descreve. “A cesária salva vidas quando é indicada, fora disso aumenta a morbidade.”

Para a médica Elza Machado de Melo, também professora da escola de Medicina da UFMG, o aumento de cesarianas é fruto de uma campanha muito bem urdida pelo que ela chama de complexo médico industrial. “Inclui também uma grande produção de medicamentos, exames e a própria oferta de serviços. E a cesariana é uma dessas mercadorias”, denuncia.

A médica considera importante entender a dimensão social, as relações e os diferentes interesses que envolvem a indústria da saúde. “Queremos a saúde da mulher e queremos o parto normal. Mas existem empresas que vivem do lucro com a saúde. Não é à toa que os processos curativos são sempre preponderantes sobre os processos preventivos”, diz ela. “A prevenção gera menos lucro do que os processos curativos.”

 

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