Em tempo de pandemia não há distinção entre atendimento hospitalar público e privado. Todos são vítimas da Covid-19
Itabira, cidade basicamente operária, com pouco mais de 120 mil habitantes, tem cerca de 40 mil moradores que contam com assistência da chamada saúde suplementar, que são os planos de saúde. Somente a Unimed-Itabira assiste a 8 mil clientes próprios e a 6 mil de outras unidades franqueadas, totalizando 24 mil assistidos em sua rede assistencial.
O Pasa, que é voltado exclusivamente para os aposentados, empregados da Vale e aos seus dependentes, foi procurado pela reportagem para informar como tem se preparado para dar assistência aos seus associados em tempo de coronavírus (Covid-19) – e até o fechamento da reportagem não respondeu. Mas com certeza, a sua carteira de clientes não fica atrás da Unimed em número de assistidos.
Como existem outros planos de saúde, se somados é possível afirmar que quase a metade da população itabirana dispõe de plano de saúde particular. Somados aos assistidos pelo Instituto dos Servidores de Minas Gerais (Ipseng), com certeza o número dos que, teoricamente, não precisariam recorrer ao Serviço Único de Saúde (SUS) deve chegar bem próximo de 60 mil habitantes. Certo?
Certo e errado, como se verá a seguir, nesta reportagem.
Infraestrutura hospitalar
Segundo informa a assessoria de imprensa da Prefeitura, a partir deste mês, os hospitais Nossa Senhora das Dores (HNSD) e o municipal Carlos Chagas (HMCC) passam a contar com mais 114 novos leitos que, somados aos anteriormente já disponibilizados, somarão 148 leitos exclusivos para o enfrentamento ao novo coronavírus.
O número inclui enfermaria e também as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). “Para todos os leitos estão previsto isolamento respiratório”, é o que informa a secretária municipal de Saúde, Rosana Linhares. Segundo ela, mais da metade do HMCC ficará disponível para o atendimento a pacientes com sintomas da epidemia.
A outra metade do hospital municipal permanece disponível para atender aos demais casos de emergência hospitalar, em sua totalidade pelo SUS. Isso enquanto o HNSD também disporá de mais leitos (60% SUS e o restante particular e medicina suplementar) para atender pacientes com outras enfermidades que não sejam decorrentes do novo coronavírus.
Sem distinção
Mas quando o paciente é diagnosticado, ou que se apresente com os sintomas do novo coronavírus, não haverá distinção no atendimento. “Contamos com uma estrutura única”, informa o diretor executivo do HNSD, Alexandre Coelho, para quem não haverá diferenciação no atendimento para vítimas da pandemia.
Portanto, se acontecer de o HNSD não conseguir atender algum paciente da saúde suplementar, ele diz que “os convênios terão que buscar na rede suplementar outro local que tenha leito disponível”.
Isso quer dizer então que o Estado, ou seja, o dinheiro do contribuinte, é que irá bancar toda estrutura de enfrentamento à pandemia? A resposta é também sim e não.
Com certeza a fatia maior desta conta recairá sobre o Estado, esse ente governamental tão execrado pelos neoliberais defensores do Estado mínimo, mas que agora mostra a sua importância no socorro à saúde e à economia, já que o mercado não tem apresentado respostas minimamente suficientes frente à pandemia.
Outra parte da conta, no caso de a pessoa dispor de plano de saúde, é reembolsada ao Estado. É o que conta à reportagem o presidente da Unimed-Itabira, o médico Virgilino Quintão Torres Cruz, que informa também sobre outras medidas que serão adotadas para atender aos seus clientes acometidos pelo coronavírus.
As mesmas dúvidas, questionamentos e pedidos de esclarecimentos foram apresentados ao Pasa, com bastante antecedência. Mas a reportagem não obteve as respostas.
“A pandemia é uma emergência de saúde pública e o atendimento não pode ser segmentado”, reforça Virgilino Quintão, da Unimed-Itabira
Como o HMCC só atende pacientes do SUS, ficando o HNSD com apenas 40% para atendimento particular e aos planos de saúde, como será a assistência médico-hospitalar do associado e ou dependente que contrair o coronavírus?
Serão atendidos na mesma rede disponível para toda população, dando-se preferência inicialmente para a rede e os leitos privados. Esta pandemia é um problema emergencial de saúde pública e os leitos disponíveis não podem ser segmentados por vínculo, público ou privado. Se o paciente for privado e a instituição prestadora credenciada for o HNSD, a cobrança será feita à operadora de plano de saúde conforme contrato entre as partes. Se o leito utilizado pelo paciente de convênio for de hospital público (HMCC) a operadora pagará a internação ao governo federal, por meio de ressarcimento ao SUS.
Para esse atendimento, qual é o número de leitos disponíveis em Itabira, em especial na UTI do HNSD?
O HNSD tem atualmente 175 leitos, destes 20 são de UTI. O HMCC tem atualmente 78 leitos, destes 10 são de UTI (esses números serão alterados, a partir deste mês, para o enfrentamento à pandemia, conforme informa a Prefeitura). A Unimed Itabira também tem à disposição dos seus beneficiários as redes credenciadas da área de abrangência dos contratos firmados, com contratos regionais ou grupo de municípios, estaduais e nacionais. Nos atendimentos relacionados à pandemia da Covid-19, a alocação dos leitos poderá seguir critérios técnicos e não comerciais.
Como é a infraestrutura para esse atendimento? Haverá número de respiradores (ventiladores) mecânicos suficientes, assim como dos demais equipamentos necessários, como testes rápidos, por exemplo?
Como a severidade do acometimento populacional é uma incógnita, o poder público e o setor suplementar da saúde estão se preparando para um cenário pessimista. Buscamos aumentar ao máximo a capacidade de atendimento das pessoas acometidas pelo vírus com quadro clínico que demande a internação e assistência hospitalar. O governo municipal irá disponibilizar 148 novos leitos distribuídos nos dois hospitais da cidade para atendimento a pacientes com Covid-19. Quanto aos respiradores mecânicos e testes, o poder público e as operadoras também correm contra o tempo para formar uma reserva técnica capaz de atender a uma possível demanda extrema.
Existe a possibilidade de o atendimento ser feito no novo ambulatório da Unimed? Ou o prédio ainda não está pronto para atendimento? Quais são a previsão e os procedimentos para isso ocorrer?
Nosso prédio ainda não oferece condições para iniciar o atendimento a clientes de forma imediata. Oferecemos o nosso espaço ao município de Itabira (são aproximadamente 8.000 metros quadrados construídos) para uma possível implantação emergencial e temporária de leitos para manejo de pacientes infectados pelo Covid-19, pelo modelo de Hospital de Campanha.
Qual é o número de médicos e demais profissionais de saúde disponíveis para o atendimento?
Somos 132 médicos cooperados em Itabira. Alguns colegas com idade superior a 60 anos não estão trabalhando por recomendação do Conselho Federal de Medicina (CFM) e de autoridades sanitárias. Contamos também com os médicos do corpo clínico do HNSD e, eventualmente, do HMCC. Teremos a possibilidade de atendimento aos nossos beneficiários em redes credenciadas de outras cidades, como Belo Horizonte.
No caso de o associado, e ou seu dependente, estiver com os sintomas da doença, como deve proceder? A quem recorrer se precisar de assistência médico-hospitalar?
Se os sintomas forem leves (coriza, febre, espirros) disponibilizamos um canal telefônico de orientação ao cliente para evitar a ida desnecessária ao hospital. No caso de sintomas mais graves (febre, tosse e dificuldade respiratória) é necessário procurar o serviço de urgência (Pronto Atendimento do HNSD ou Pronto Socorro Municipal de Itabira). O atendimento administrativo ao cliente Unimed será feito de forma remota, por meio de telefone, Whatsapp, site e aplicativo Unimed Cliente (disponível na App Store e Google Play).
Quais são as outras medidas para dar cobertura aos associados e aos seus dependentes diante da pandemia?
Nossos clientes também podem ter canal direto com seus médicos assistentes e são orientados por esses, como também por meio de telefone e mídias sociais. A saúde suplementar trabalha conjuntamente com o poder público para enfrentar adequadamente esta situação emergencial e totalmente imprevisível que atravessamos no momento.
Por fim, a Agência Nacional de Saúde (ANS) pede que os planos de saúde continuem a atender quem atrasar o pagamento das mensalidades, em caráter excepcional, enquanto durar a pandemia. A Unimed-Itabira irá acatar a sugestão?
Estamos aguardando um posicionamento oficial da ANS a este respeito. A Procuradoria-Geral da União cobrou este posicionamento da agência e a reunião para tratar do assunto já está programada. Acataremos o que for definido pela ANS, órgão que regula nosso setor. Reforçamos que a adimplência dos clientes é de suma importância para o financiamento das ações de combate à pandemia e para a continuidade dos tratamentos aos demais agravos à saúde, que continuarão a acontecer, paralelamente à doença causada pelo Covid-19. Esperamos que os órgãos normativos alinhem seus discursos e regras, evitando a desordem, a desassistência e a exploração política da situação.