O perigo mora por toda cidade: Itabira, mais uma vez, corre risco de ter surto de dengue, zika e chikungunya

O quadro não muda e se repete – e não é como farsa, mas como realidade que assusta e até mata. As chuvas não são as culpadas pelos desastres socioambientais que assolam o estado, mas delas decorrem pela força da água acumulada e das ações antrópicas.

São decorrentes das ações humanas que assoreiam as calhas naturais dos rios, córregos e riachos, que entopem as redes de águas pluviais nas grandes cidades, com os tristes desfechos que tantos danos – e mortes – provocam entre os moradores, principalmente entre as populações pobres, historicamente mais vulneráveis.

Juntamente com as consequências funestas advindas das ações humanas que se agravam com as fortes chuvas, e que devem persistir por todo o mês de fevereiro até que as águas de março fechem o verão, tem-se ainda a proliferação de focos de criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya.

Esses criadouros proliferam com as águas paradas nos vasilhames abandonados nos quintais e jardins, nos ferros-velhos, nos lixos lançados na beira das estradas, na caixa d´água destampada, no desleixo da população – e também pelo descaso e muitas vezes falta de vigilância do poder público – ao abandonar ao deus dará peças e vasilhames inservíveis que acumulam água.

Recorrência

O mosquito vetor prolifera em criadouros com água parada (Fotos: Google)

É assim que Itabira, como ocorre todos os anos, vive o risco de proliferação dos focos do mosquito Aedes aegypti, mesmo com o registro do índice médio de infestação de 5,3% do primeiro índice Liraa (Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti), divulgado na sexta-feira (24), ter sido ligeiramente inferior ao que foi registrado no ano passado, de 5,9%.

Isso significa que nada mudou – e o perigo persiste, o que deixa a cidade vulnerável, suscetível a um surto da dengue, zika e chikungunya. Com índices superiores a 4%, como tem ocorrido todos os anos em Itabira, a indicação, segundo a Organização Mundial de Saúde, é de risco de surto dessas doenças.

Somente índices inferiores a 1% são considerados satisfatórios, enquanto índices entre 1% a 3,9% indicam uma situação de alerta. Com índice médio de 5,3%, como é o caso de Itabira, o sinal vermelho é acionado.

E todos têm a obrigação de se cuidar e agir para fazer parte do exército de combate aos focos de criadouro do mosquito, que não escolhe cor, idade, sexo ou classe social para picar e propagar essas temíveis doenças que enfraquecem o cidadão, podendo inclusive levar ao óbito.

Focos por toda cidade

Água em piscina abandonada: berçário que precisa ser eliminado

Os focos do mosquito estão espalhados por toda cidade. Porém, em algumas regiões a situação é mais crítica. A pesquisa realizada pelos agentes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), em mais de 2 mil domicílios, indica que não dá para descuidar.

A pesquisa encontrou 110 focos, tendo sido notificados 71 casos de suspeitas de dengue, sendo três positivos.

Embora por toda a cidade a atenção deva ser permanente, a situação é mais preocupante no bairro São Bento, com registro de um alarmante índice de infestação de 33,33%.

Mas em outros bairros a situação não é diferente – e todos correm risco de surto: Retiro das Serras (25%), Boa Esperança (22,22%), Amazonas (21,42%), Conceição e Vila Técnica Conceição (20%), Juca Rosa (15,5%), Área Verde (15%), Santa Tereza (14,81%), Pedras do Vale (12%); Chapada, Santa Ruth e São Francisco (11,11%), Colina da Praia 3 (10,5%); Clóvis Alvim I, Hamilton e Vila Salica (10%).

O quadro é também de risco nos bairros Eldorado (9,09%); Bálsamos e Santa Marta (8,69%), Bairro de Fátima e Santo Antônio (8,33%), Bela Vista (7,5%), Valença e São Marcos (7,14%), São Pedro (6,94%), Caminho Novo (6,89%), Novo Amazonas (6,81%); Vila São Joaquim, Abóboras, Areão, Fênix e Baixada Grande (6,66%), Machado (6,45%), João XXIII (6,32%), Estação Rodoviária (6,25%), Gabiroba (5,63%), Major Lage (4,76%) e Distrito Industrial II (4,55%).

A situação ameniza nos bairros Vila Piedade e Jardim Gabiroba I (3,84%), 14 de Fevereiro (3,44%), Nossa Senhora das Oliveiras (2,63%), Jardim Gabiroba (2,6%), Campestre (2,22%), Colina da Praia (1,78%) e Pedreira (1,58%). Mas todos esses bairros também estão em situação de alerta.

Thereza Andrade Horta: “situação é preocupante.”

Para a superintendente de Vigilância em Saúde, da SMS, Thereza Cristina Oliveira Andrade Horta, o primeiro índice Liraa deste ano demonstra que o cenário é o mesmo de preocupação verificado nos anos anteriores.

E exige atenção e mobilização permanente de toda a população no combate dos focos de criadouros do mosquito. O levantamento é um indicador de que essa situação pode ser agravada.

E que pode repetir – ou até mesmo ampliar – o número de casos registrados em relação ao ano passado, que teve 1.934 notificações de dengue, com 390 registros positivos. “A tendência para este ano continua a mesma do ano passado”, lamenta a superintendente de Vigilância em Saúde.

Combate permanente

Para amenizar a situação, e não se tornar vítima dessas doenças, é preciso combater os focos de criadouros do Aedes aegypti no município. Os principais focos foram encontrados em vasos com plantas, frascos, pratos, garrafas, pingadeiras, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros em geral, além de pequenas fontes e materiais de construção (sanitários estocados). E também em tambores, barris, caixas d’água destampadas, recipientes plásticos.

O segundo lugar com mais registros são os depósitos ao nível do solo: tonel, tambor, barril, caixas d’água etc. Em seguida, estão os recipientes plásticos, garrafas, latas, sucatas abandonados em quintais, jardins e pátios, além de ferros velhos e entre entulhos de construção.

Berçários do Aedes aegypti também foram encontrados em borracharias, hortas, calhas, vasos sanitários sem uso, piscinas não tratadas, fontes ornamentais, floreiras de cemitério, cacos de vidro em muros e toldos. Outros registros de criadouros foram detectados em plantas nos jardins e quintais, em frestas nos troncos de árvores e também em rochas.

Daí que é preciso manter vigilância permanente, pois os focos podem se encontrar onde menos se espera – e por toda a cidade. Do mutirão de combate aos criadouros deve participar toda a população, pois os criadouros, embora proliferem com maior frequência em alguns bairros, estão por toda a cidade.

 

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