Declaração ignóbil de Bolsonaro sobre assassinato de militante político pela ditadura une forcas democráticas

Rafael Jasovich*

O ataque de Jair Bolsonaro (PSL) ao estudante Fernando Santa Cruz, sequestrado, preso e morto pela Ditadura Militar (1964/85), motivou o repúdio de diversas instituições e de líderes de partidos políticos à esquerda e à direita, como Dilma Rousseff, Fernando Haddad, Guilherme Boulos, João Doria e Marina Silva. Bolsonaro conseguiu unir todo o campo democrático na repulsa a sua psicopatia

A declaração de Jair Bolsonaro na segunda-feira, 29, exaltando o assassinato do militante Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, durante a Ditadura Militar, foi uma declaração ignóbil que mereceu o repúdio de todo o campo democrático que ainda resiste no país contra o avanço do autoritarismo e daqueles que sonham com a volta da ditadura.

“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É a que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, afirmou Bolsonaro .

A declaração de Bolsonaro foi repudiada ao longo do dia. A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que “só nos regimes fascistas o presidente ameaça prender e se vangloria dos assassinatos”. O ex-prefeito Fernando Haddad viu na fala um risco ao próprio presidente da OAB. “Vejo isso como uma ameaça”, disse Haddad

Pela esquerda, também o líder do MTST, Guilherme Boulos condenou o ataque do presidente. “Bolsonaro é um cínico asqueroso. Se sabe como Fernando Santa Cruz desapareceu, após ser preso pela ditadura, deve dizer ao Brasil. Nós queremos saber”, disse Boulos.

Na direita também houve repúdio à fala de Bolsonaro. O governador de  São Paulo, João Doria (PSDB), classificou o ataque como “inaceitável” E o jurista Miguel Reale Júnior disse que “não é caso de impeachment, mas de interdição”

A agressão de Jair Bolsonaro ao presidente da OAB parece ter alertado o sistema político nacional para o risco de que o Brasil caminhe para um ditadura aberta, caso nada seja feito contra o capitão da extrema-direita.

Defendido nesta segunda-feira pelo líder do PT, Paulo Pimenta, um pedido de impeachment contra Bolsonaro começa a ganhar força no Congresso. E pode, pela primeira vez desde a redemocratização do país, colocar no mesmo campo atores políticos da esquerda e da direita, comprometidos com a defesa da democracia e das liberdades asseguradas pelo Estado de Direito.

Não acredito em impeachment pois, com menos de dois anos de governo, o Congresso Nacional deveria eleger um novo presidente pela via indireta, sendo que o eleito pode ser qualquer cidadão brasileiro em condições legais de assumir a presidência. Nessa conjuntura, o caos se instalaria no Congresso – e as forcas políticas jamais iriam se entender.

Vivenciamos um momento único na nossa história, com um presidente tresloucado, insano, que não tem nenhuma condição de presidir o país.  Está claramente a serviço de interesses escusos. E sendo chacota no mundo inteiro, menos pelo governo dos EEUU, obviamente.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

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