Quem não deve não treme. Flávio Bolsonaro esconde algo ou é mal assessorado

Rafael Jasovich*

Em foto publicada no Instagram, o senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL´-RJ) posa com o motorista Fabrício Queiroz, seu ex-assessor parlamentar. O pedido que o deputado fez ao Supremo Tribunal Federal (STF), para que a corte suspenda a apuração do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) das suspeitas movimentações financeiras suspeitas de Queiroz, demonstra que ele é quer que eventuais falcatruas venham a público ou é o político mais mal assessorado do mundo.

E não digo assessoria em termos queirozianos, mas assessoria política e de comunicação. Pois entrar com pedido para bloquear a investigação do caso que envolve seu antigo funcionário é uma ação desastrosa para a imagem do parlamentar.

Isso fortalece o discurso da oposição ao governo de seu pai – que afirma ser Fabrício Queiroz um laranja da família Bolsonaro e que o objetivo desta decisão liminar do STF seria garantir a posse do senador sem constrangimentos.

Pois, uma vez empossado, mesmo que não se confirme a questão do foro privilegiado, ele se torna um membro do Senado, casa que protege os seus. Ainda mais o filho de um presidente da República

Flávio Bolsonaro, deputado estadual, senador eleito e primogênito de Jair Bolsonaro, teve seu pedido de suspensão da investigação criminal contra seu ex-assessor e motorista Fabrício Queiroz aceito em caráter liminar pelo ministro Luiz Fux – o responsável pelo plantão do Supremo Tribunal Federal.

A suspensão, que veio a público nessa quinta feira (17), será avaliada pelo relator indicado para o caso, ministro Marco Aurélio Mello quando voltar do recesso do STF, no dia 1 de fevereiro. Convenientemente a data é a mesma em que Flávio assumirá o cargo de senador pelo Rio de Janeiro – a partir da qual terá foro privilegiado

No ano passado, o próprio Supremo fixou regra para que sejam julgados pela corte casos envolvendo deputados federais e senadores referentes apenas ao exercício do mandato.

Contudo, dúvidas sobre o enquadramento dos casos são resolvidas pelo próprio STF – e a defesa de Flávio jogou com isso, pedindo a anulação das provas recolhidas. O ministro Luiz Fux, a propósito, votou a favor da restrição do foro em 2018. Como se vê, coerência é mais um item em falta no país.

A repercussão da decisão tornou-se manchete da imprensa e assunto mais falado nas redes sociais dessa quinta-feira. Flávio recebe críticas da esquerda à direita. Isso porque, independentemente da origem dos recursos de Queiroz ser legalmente condizente ou moralmente aceitável, esse caso tem demonstrado um profundo desprezo com a transparência, um dos princípios da administração pública

Politicamente, a jogada pode dar certo. Contudo, do ponto de vista do desgaste de sua imagem, vai deixar marcas.

Desde que a polêmica sobre suas “movimentações atípicas” de R$ 1,2 milhão detectadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) vieram a público com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, no dia 6 de dezembro, Queiroz tem evitado prestar depoimento ao Ministério Público, como se sua liberdade dependesse disso.

Chegou a nos presentear com um episódio de “Além da Imaginação”, quando evitou depor ao MP-RJ e optou por falar a SBT a fim de dizer que o mais importante só diria ao promotor de justiça do caso.

Na entrevista, um aparentemente saudável Queiroz justificou as ausências por conta dos exames que fez devido a um câncer no intestino. Contou que “faz dinheiro” com rolos – comprando, reformando e vendendo carros.

Operou no hospital Albert Einstein, no início deste ano, um dos mais caros do país – comprovando que a atividade de “rolo de veículos” deve ser bem lucrativa. Antes, apareceu dançando em um vídeo no hospital, sofrendo crítica por isso. Particularmente, não vejo problemas em Queiroz dançar, vejo problema em ele não querer falar

Há coincidências entre datas de pagamentos dos salários pela Assembleia Legislativa do Rio com os depósitos na conta de Queiroz feitos por outros funcionários do gabinete de Flávio e saques em dinheiro pelo policial. Esse tipo de ação é semelhante à prática ilegal de devolução de parte dos salários dos funcionários aos seus chefes parlamentares.

Queiroz disse que preferia falar ao MP-RJ sobre esse dinheiro, mas que também geria os recursos da família, justificando os depósitos de sua mulher e filhas, que também trabalhavam para o filho do presidente, em sua conta.

Uma das filhas saiu do gabinete de Flávio e trabalhou para Jair, na Câmara dos Deputados, também entregando a maior parte do salário para seu pai. Ela batia ponto em Brasília enquanto aparecia em selfies mostrando seu trabalho de personal trainner no Rio.

Quando foi perguntad no SBT sobre o porquê de também ter recebido de outros funcionários do gabinete, afirmou que “em respeito ao MP” prestaria os esclarecimentos à instituição.

O Ministério Público do Rio de Janeiro, que estava esperando ouvir Queiroz, sua família e o próprio Flávio Bolsonaro, agora terá que esperar mais ainda devido à decisão do ministro Fux.

Realmente, dou o braço a torcer. Pois, até agora, nem foi preciso mobilizar o tal cabo e o tal soldado para desmoralizar de vez o STF. Bastou o motorista que deve, mas não treme. Afinal, ele é amigo do chefe-maior que está na presidência. E passa também a gozar de “imunidade”.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

 

 

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