“O meu nome é tumulto e escreve-se na pedra”, disse André Viana em sua posse no Metabase, citando Drummond

Com agradecimento aos que considerou as duas maiores autoridades (Deus e o seu pai, o também sindicalista Carlinhos Madeira) presentes em sua posse na presidência do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Extrativa de Ferro e Metais Básicos de Itabira (Metabase), na sexta-feira (19), no Centro Cultural, o vereador André Viana Madeira (Podemos) fez um discurso inflamado.

Ele citou trechos bíblicos, além de fazer referências textuais ao filósofo alemão Karl Marx (1818/83), fundador do socialismo científico, além de versos do compositor Caetano Veloso e do poeta itabirano Carlos Drummond de Andrade (1902/87).

Vereador André Viana, presidente empossado do Metabase

Viana, que é evangélico, não deixou de citar também o pastor Wagner Miranda. “Cumprimento o meu pastor, mentor espiritual e idealizador de todos os meus projetos atuais. Não tomo decisões sem ouvir o meu pastor”, confessou.

O vereador sindicalista foi duro ao se referir à sua empregadora Vale, na qual trabalha há 15 anos, desde que completou a maioridade. “Antes mesmo de tomar posse, recebi em minha sala de interino no Metabase dois interditos proibitórios, que me ameaçam com multa de até R$ 50 mil por dia, caso eu venha a turbilhonar (perturbar/agitar) alguma de suas locomoções.”

Esses interditos são medidas jurídicas preventivas e foram adotadas pela empresa Vale depois que o vereador ameaçou de paralisar a ferrovia, em uma audiência pública por ele convocada para discutir o valor das mensalidades e a qualidade do atendimento pelo Plano de Assistência à Saúde do Aposentado da Vale (Pasa). “Esses interditos não irão nos mudar”, assegurou.

Carlinhos Madeira, diretor do sindicato

“Estivemos em Governador Valadares para lutar por Itabira ter um lugar de destaque no debate da concessão da ferrovia. Itabira está fora dessa discussão da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), uma cidade que desde 1942 manda minério para o mundo e que hoje tem 20 mil desempregados. E que vive uma ‘espiação’, um boato de que o minério acaba em 2028.”

O sindicalista disse ter visto, antes de tomar posse, fotos do início da década de 1940 com trabalhadores extraindo minério com as mãos para carregar os vagões da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM).

“Essas fotos me emocionaram. Estamos aqui para fazer o grito dos que sofrem no trabalho, que passaram pela empresa, perderam a saúde e a vida na Vale”, disse ele, citando o caso do trabalhador Luiz Gustavo, morto em acidente na empresa. Em sua memória, ele pediu um minuto de silêncio.

Resistência e combate

O novo presidente do sindicato Metabase disse ainda que, em nome dos princípios que segue e acredita, irá persistir com obstinação na defesa dos interesses de todos os trabalhadores de Itabira, Conceição do Mato Dentro e de outras 36 cidades, onde existem trabalhadores filiados ao Metabase. “Teremos diálogo quando houver caminho para o diálogo, mas seremos também combate quando for preciso ter resistência.”

Diretoria do sindicato Metabase: predominância de trabalhadores aposentados

Segundo ele, o país vive uma conjuntura política difícil, mas que, como quem faz história, assegura que está, juntamente com a nova diretoria empossada, disposto a lutar pelos direitos dos trabalhadores na mineração, como também por uma Itabira, um estado e um país livres de amarras.

“Nós vamos conseguir avançar nesse tempo difícil. Parafraseio Caetano Veloso, quando ele diz em sua canção que alguma coisa está fora da ordem, fora da ordem mundial. É essa ordem que precisamos mudar.”

O sindicalista também citou Karl Marx ao reafirmar o compromisso de luta em defesa do trabalhador. “Os sindicatos têm por fim organizar os trabalhadores, uni-los para impedir que o nível dos salários desçam e os direitos sociais sejam vilipendiados. Sindicatos são resistência e sociedade de segurança criados pelos e para os próprios trabalhadores.”

Dirigindo-se ao senador eleito Carlos Viana (PHS), a quem apoiou, que compareceu à sua posse, disse que irá acompanhar todos os dias a sua atuação no Congresso Nacional e no Senado. “Não aceitarei de Vossa Excelência votos contra o trabalhador.”

E ele frisou: “Não se pode tirar direitos dos trabalhadores, não se pode mexer na Previdência do trabalhador, em seus direitos trabalhistas”, advertiu André Viana. Contraditoriamente, o vereador sindicalista apoia a candidatura de Jair Bolsonaro (PNM), que votou a favor da desregulamentação da CLT e é favorável à reforma da Previdência, que retira direitos dos aposentados.

Ativismo

Já encerrando o seu discurso, Viana citou o poeta itabirano Carlos Drummond de Andrade, fazendo uma profissão de fé. “Esse é tempo de homens partidos. (…). Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei. Meu nome é tumulto e escreve-se na pedra”, disse ele, recitando trechos do poema Nosso Tempo.

“O nosso nome é tumulto e será tumulto todas as vezes que os trabalhadores forem agredidos e vilipendiados, que a CLT for vilipendia. O nosso nome será tumulto e será escrito na pedra, na história da nação”, finalizou sem temer represálias ao ativismo sindical que não é “pelego” e nem meramente assistencialista.

Homenagem ao ex-presidente Milton Bueno e ao diretor Negão

O ex-presidente Milton Bueno (de barba) foi homenageado

André Viana homenageou o ex-presidente Milton Bueno, que dirigiu o Metabase no fim das décadas de 1980 e início de 1990. A homenagem ocorreu quando ele contou ter recebido de sua mãe, aos três anos, uma carteira de sócio do clube Metabase, assinada pelo ex-presidente.

“(Milton Bueno) foi um dos maiores guerreiros da história do sindicalismo do Brasil, por ter sido o primeiro, e até hoje o único, a fazer a empresa sofrer seis dias de greve e aprender a respeitar o trabalhador.”

A greve dos trabalhadores da Vale que ele se refere foi, na verdade, a segunda em sua história – a primeira foi no início da mineração. Mas a que abalou a empresa foi deflagrada em 3 de abril de 1989.

A grande greve paralisou a produção nas minas Cauê e Conceição – e atingiu a Estrada de Ferro Vitória a Minas, com adesão também do Sindicato dos Rodoviários – e também da mina de Timbopeba, em Ouro Preto.

Vilania

Cacá entrega placa em reconhecimento ao sindicalista Negão

Outro homenageado na solenidade, dessa vez pelo vice-presidente Carlos Estevam Barroso, o Cacá, foi o diretor social José Alberto Miguel. Negão é ex-presidente do sindicato e teria sido achincalhado pela diretoria anterior.

“Eu conheci esse meu amigo e ao longo de nossa história fomos nos ajudando. Eu fui levado por esse grande amigo e com ele comecei a minha história no movimento sindical”, testemunhou o vice-presidente.

Ele revelou que em função de uma dívida que Negão contraiu no sindicato para ajudar um irmão, e que vinha pagando todos os meses, foi rechaçado no sindicato de maneira vergonhosa. “Ele foi assassinado em sua reputação”, disse Cacá.

“Há 16 anos esse espinho está atravessado em minha garganta por tamanha vilania de pessoas que se esqueceram da honradez e do caráter desse companheiro”, registrou o vice-presidente, em ato de desagravo. “Reocupe o seu lugar na história de luta da classe trabalhadora. Você é um campeão, meu amigo, camarada, conselheiro Negão.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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