Falta vontade política para desenvolver a cultura em Itabira

José Norberto de Jesus*

A falta de investimento na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) pela Prefeitura de Itabira tem sido um dos fatores cruciais que impedem o crescimento do setor. Com isso, falta entretenimento na cidade, não se cria um público consumidor de arte e cultura, que aprecia teatro, dança, música e outras manifestações artísticas e culturais.

São muitas as dificuldades para que se crie um entrosamento entre quem deveria investir maciçamente neste segmento e quem produz esse tipo de atividade. Sem a compreensão do poder público da importância da cultura na educação de um povo, Itabira está fadada a reproduzir espetáculos de pouca expressividade.

Banda Calangodum, formada por alunos da Unifei: integração cultural no Tô na Praça com 4a Arte. Na foto em destaque, banda de marujo Nossa Senhora do Rosário (Fotos: Mauro Moura)

É preciso que o poder público reavalie essa postura pouco criativa que chega a ser tacanha, em detrimento da população e de toda cadeia produtiva envolvida na produção cultural. Nesse sentido, é importante que a administração pública se motive – e que se abra para novas discussões, rompendo barreiras políticas existentes. E que entenda a cultura como mola propulsora da economia do município.

As investidas das grandes produções artísticas, tão comuns nas décadas de 1980/90, há muito deixaram de ser rota de investimento por falta de apoio e promoção local ao intercâmbio cultural. Hoje tem sido natural não ver espetáculos antes tão comuns se apresentarem na cidade.

Nandy Xavier, compositor e cantor itabirano na Quinta Cultural

A falta de interesse do público e do poder municipal afasta os empreendedores da área de entretenimento. Com isso, restringem-se as atividades “culturais” aos espetáculos de massa, como os de caráter sertanejo e afins, que pouco contribuem para a formação cultural do público, por resumirem apenas ao entretenimento.

Sem esse olhar crítico da FCCDA – e sem incentivo aos produtores culturais locais – pouco ou nada muda. E assim mantém-se a mesmice cultural, sem reverter o ostracismo que Itabira está envolvida.

Vale Cultura

O Conselho Municipal de Cultura (CMC) vem cumprindo a sua agenda de trabalho, que foi proposta com o início de suas atividades no começo do ano. Entretanto, todas as propostas estão emperradas pela burocracia e falta de vontade política.

Osny Belisário e Genésio Reis, artistas itabiranos

Muitas proposições foram aprovadas, mas poucas ações foram empreendidas. Uma delas, o Vale + Cultura, que foi abraçado pelo presidente da Comissão de Cultura da Câmara Municipal, o vereador André Viana (Podemos), é uma esperança para alavancar a produção cultural em Itabira.

Conforme declarou o vereador, a iniciativa cultural é um importante vetor para o crescimento da economia criativa local e regional. E Itabira tem condições de exercer um real papel de polo cultural regional, o que ainda está, por enquanto, longe de ocorrer.

Outra ferramenta importante, há muito não utilizada, é a Lei Drummond. O seu objetivo é regulamentar os projetos artísticos e culturais para concessão do benefício de incentivo fiscal. Falta incrementar esse incentivo para impulsionar a produção cultural local.

Por uma cultura que valorize a diversidade (Foto: Zezinho Alves)

Já o Fundo Municipal de Cultura tem um déficit de quase R$ 500 mil, que não foram repassados pela Prefeitura, não obstante ter lei que obriga esse repasse, prejudicando as ações culturais no município.

Sem investimentos, o processo se torna ineficiente, pois os agentes culturais que contavam com esses recursos continuam apenas com os seus sonhos. Projetos “dormem” nas gavetas empoeiradas, uma vez que o empresariado da indústria e do comércio dançam de acordo com a morosidade e falta de apoio institucional

Seminário da cultura

A proposta de um Seminário Regional de Cultura, a ser realizado em local e dada ainda a ser definidos, precisa ser melhor formatada. A expectativa é ampliar a discussão sobre a importância de se criar uma estrutura representativa e centralizada das ações que contribuirão para a aproximação dos produtores culturais dos municípios vizinhos.

E, a partir da criação de uma entidade que os represente, como um Consórcio Regional de Cultura, criar infraestrutura e dispor de recursos humanos e financeiros capazes de fomentar a cultura nesses municípios, promovendo o intercâmbio e a interação entre os povos envolvidos em sua criação.

Grandes espetáculos, como o de Alceu Valença, tornaram-se raros em Itabira (Foto: Gustavo Linhares)

A proposta de criação do Consórcio Regional de Cultura foi debatida e aprovada por unanimidade na última reunião do Conselho Municipal de Cultura de Itabira. Mas para ser efetivado, é preciso envolver as Câmaras e Prefeituras da região.

Entre os seus objetivos estão um maior entrosamento das estruturas funcionais existentes nessas cidades. Isso de tal maneira que o Vale + Cultura e a Economia Criativa, e demais instrumentos propulsores do setor, assim como agentes produtores de cultura da região, possam ser reconhecidos e valorizados.

A criação de um consórcio dessa natureza é de grande valor. E deve ser promovido pelo Conselho Municipal de Cultura por meio da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, com suportes das secretarias municipais da Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação Tecnológica.

Mas, infelizmente, e ainda que tardia, falta despertar o interesse dos municípios para a criação desse consórcio. E Itabira pode desempenhar um papel de vanguarda nesse processo, desde que haja interesse político.

*José Norberto de Jesus é produtor cultural em Itabira

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3 Comentários

  1. UAI1, 2 e 3, um grande evento onde seis dias após a morte do Cazuza, Barão Vermelho fez um show memorável em Itabira. Que se repitam por longas datas. Queremos shows de qualidade!

  2. A Fundação Drummond de Andrade mostra-se inoperante face a caótica administração e os desmandos do prefeito com o orçamento da mesma.
    Dizem a todo momento que não há dinheiro, porém a arrecadação está se mantendo a níveis de sempre e não se justifica toda essa má vontade com a produção cultural local.
    Não adiante realizar um festival de inverno somente, principalmente “comprando” toda a programação de fora da cidade, menosprezando nossos agentes culturais e relegando tudo e todos a praticamente nada!

  3. Caro Norberto, se o prefeito e os vereadores são analfas funcionais não se deve contar com soluções inteligentes. O Brasil perdeu. Perdemos! O domínio é dos ignorantes brutamontes. Está tudo um horror!
    Não veremos país nenhum por um longo e tenebroso tempo…

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