Modelo da Unifei de Itabira não é diferente de Itajubá, diz o reitor Dagoberto de Almeida

Ao se defender da acusação de pretender acabar com a autonomia do campus local com a divisão em unidades acadêmicas da Unifei em Itabira, o professor Dagoberto Alves de Almeida, reitor da universidade, em artigo postado em seu sitehttps://unifei.edu.br/blog/o-abandono-de-cargos-no-campus-da-unifei-itabira/), contesta também a visão até aqui propagandeada pelos seus então dirigentes de que o município teria um modelo inovador, conforme teria sido originalmente concebido (leia aqui).

Dagoberto de Almeida, reitor da Unifei, disse desconhecer modelo inovador do campus de Itabira (Foto: Divulgação)

Pelo menos era isso o que defendia o professor Renato Aquino, reitor da Unifei na época da implantação do campus avançado de Itabira, há quase dez anos. “Sem a Vale, teríamos um projeto comum. Com a participação da Vale, e também da Prefeitura, temos a oportunidade de construir algo extraordinário, uma universidade tecnológica que contribuirá sobremaneira para o desenvolvimento econômico e social de Itabira”, afirmou o ex-reitor na aula inaugural ocorrida em junho de 2008.

Renato Aquino previa para o complexo universitário de Itabira o funcionamento de um Centro de Tecnologia Aplicada – um posto avançado de extensão do conhecimento gerado pelas pesquisas científicas, com aplicação prática de novas tecnologias. E, ainda, cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado).

Foi com esse projeto universitário que se criou enorme expectativa em torno da implantação do campus universitário. O projeto universitário foi, e ainda é considerado imprescindível para o desenvolvimento de alternativas econômicas para o município, que se depara já no curto prazo com a exaustão de suas minas, exploradas pela Vale desde 1942.

Como parte dessa parceria público-privada – anunciada como a mais bem-sucedida no país na área de educação –, o município já investiu mais R$ 63 milhões, provenientes da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem). E terá que investir, caso seja mantido o projeto original do campus, uma bagatela a mais de R$ 400 milhões para a sua conclusão, que equivalem a quase um ano de todo orçamento do município.

Debate na Câmara

Vereadores querem debater projeto universitário de Itabira depois da crise na Unifei (Fotos: Carlos Cruz)

Não é à toa que a Câmara Municipal, por iniciativa do vereador André Viana (Podemos) pretende instalar uma Comissão Especial de Estudo para apurar as circunstâncias que teriam levado ao “abandono” dos objetivos originais do projeto universitário de Itabira. Para isso, os edis itabiranos pretendem ouvir os parceiros do projeto, inclusive os antigos e os atuais dirigentes da Unifei (leia aqui e aqui).

O vereador Neidson de Freitas (PP), presidente da Câmara, propôs também uma repactuação em torno da parceria para a implantação completa do campus, conforme foi projetado originalmente. Ele defende, por exemplo, que a participação da Vale não deve se restringir à instalação dos laboratórios. “A empresa tem uma dívida histórica enorme com Itabira. O investimento maior na Unifei é uma oportunidade para resgatar uma fatia maior dessa dívida”, defende.

Ducha fria

Entretanto, de acordo com o professor Dagoberto de Almeida não existe esse modelo inovador para o campus de Itabira. “Não há como escapar da questão central de que qualquer que tenha sido a filosofia que motivou o surgimento do campus de Itabira, ela nunca foi devidamente discutida em termos coletivos”, afirma o reitor em seu artigo.

Segundo ele, a ausência desse debate teria sido proposital. “De fato, em meu entendimento e no de vários que compartilham os ideais da administração atual, isso foi feito de forma deliberada para que não houvesse interferências, ainda que entendidas como contribuições que pudessem, eventualmente, divergir de qualquer visão particular que nunca foi claramente exposta”, refuta o reitor, para quem, para que houvesse um novo modelo, esse teria de ser formalizado.

E o reitor continua: “Esse suposto modelo a que essas pessoas, velada e explicitamente se lançaram em defesa de forma tão agressiva, nunca foi escrito, nunca foi discutido, não se encontra, sequer no Planejamento Estratégico e no Plano de Desenvolvimento Institucional”, enfatiza Dagoberto de Almeida.

Para ele, “esse suposto modelo, sobre o qual tanta comoção tem sido provocada, pode existir no imaginário de algumas pessoas, mas, do ponto de vista institucional, ele não existe, insisto, pois que nunca foi discutido coletivamente, deliberado em instância superior e registrado em nossos documentos, como é próprio e necessário em instituições”.

E conclui, defendendo o modelo universitário vigente em Itajubá, que seria válido também para o campus avançado de Itabira; “Vale destacar que não vejo nada de errado com o modelo presente no campus sede dessa maravilhosa instituição, criação inovadora do nosso fundador, o grande Theodomiro Carneiro Santiago.”

Guerra pela diversificação pode estar sendo perdida, afirma ex-reitor

O ex-reitor Renato Aquino: projeto inovador é posto em dúvida

O professor Renato de Aquino Farias Nunes, ex-reitor da Unifei, disse em palestra no dia 2 de setembro, no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, que o município está perdendo a guerra da diversificação econômica por falta de vontade política e abandono do objetivo inicial que foi traçado com a implantação do campus da Unifei em Itabira, do qual ele foi o principal mentor (leia mais aqui).

Aquino disse ser imperioso retornar a ideia inicial das incubadoras de empresas e do Parque Tecnológico. “A Unifei irá crescer em número de alunos. Mas irá contribuir muito mais sendo uma universidade de pesquisa, incentivando e criando condições para a abertura de empresas inovadoras e tecnológicas”.

Essa seria, para o ex-reitor, a principal missão da Unifei no município. “Foi a nossa utopia ao criar o campus de Itabira.” Aquino exemplificou com o que ocorre no Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, onde várias empresas de alta tecnologia surgiram com o desenvolvimento de pesquisas e extensão, com participação efetiva de três universidades, entre elas a Universidade de Stanford.

No Vale do Silício, nos Estados Unidos, empresas e universidades se uniram para criar novos fatores de produção. “A região tinha a terra como principal fator de produção de ameixa seca. Hoje exporta tecnologia para o mundo todo”, exemplificou, dizendo esperar que o mesmo aconteça com o campus da Unifei em Itabira.

Debate necessário

Pois é justamente esse modelo, que segundo o reitor Dagoberto Almeida só existe na cabeça de iluminados e que nada foi formalizado, que está sendo colocado em xeque. Trata-se de uma boa pauta para a Comissão Especial de Estudo da Câmara debater com a sociedade itabirana e com os integrantes da parceria público-privada que viabilizou a instalação do campus avançado da Unifei no município.

Como se observa, o pronunciamento do reitor Dagoberto colocou mais lenha na fogueira da crise da Unifei. Isso não significa que seja necessariamente ruim para o projeto universitário de Itabira, assim como não se conclui pelo fim desse “modelo”, que agora se diz ser fictício.

Pelo contrário, pode ser um bom momento para rediscutir e formalizar esse modelo – e que seja de acordo com as expectativas da sociedade itabirana. Afinal, a Prefeitura já investiu uma boa soma de recursos destinados à sua diversificação econômica para a sua implantação. E, por isso mesmo, e para que alcance os seus objetivos, não pode ser abandonado.

 

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1 Comentário

  1. Vale destacar que a vigência do atual PDI da UNIFEI finda em 2018 e, portanto, o momento é o mais oportuno para discutir o tema e organizar, para o novo PDI, a formalização das perspectivas para o campus de Itabira.

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