Doenças respiratórias são agravadas pelas fuligens das queimadas e pela poeira da mineração em Itabira

No destaque, um grande incêndio em área do Distrito Industrial, próximo da Unifei, possivelmente criminoso (Foto: Reprodução)

Não bastasse o aumento da poeira vinda das minas da Vale neste período de estiagem, com a baixa umidade relativa do ar e ventos fortes com mudanças bruscas de direção, ainda se têm as fuligens e fumaças das queimadas para agravar as doenças respiratórias entre a população de Itabira.

Ana Carolina, professora da Unifei; queimadas prejudicam o meio ambiente e contribuem para agravar as doenças respiratórias (Fotos: Reprodução e Carlos Cruz)

“Estamos vivendo no país uma crise hídrica sem precedentes. A chuva tem a propriedade de mitigar esses impactos ao lavar a atmosfera. Sem ela, aumenta a poeira e também as fuligens e fumaças das queimadas, que são tóxicas”, alerta a professora Ana Carolina Vasques Freitas, da Unifei, graduada em Física pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e pós-doutora em Ciência da Atmosfera.

“Já temos o problema da poeira neste período ao ano mais seco. Fica em suspensão juntamente com as partículas das queimadas, o que agrava a situação ainda mais com a crise hídrica que estamos vivendo, que é uma das consequências das queimadas na Amazônia. A floresta é fonte de umidade, potencializa e está ligada ao regime hidrológico de chuvas no Sudeste”, explica a professora universitária.

Segundo ela, a crise hídrica deste ano é pior que a vivida no país em 2014, devido a ocorrência de chuvas abaixo da média. “Se temos uma estação mais seca que o usual, com a poeira e as queimadas, as consequências para a saúde da população é o agravamento das doenças respiratórias, que podem ocasionar mais pressão sobre sistema de saúde da cidade, já pressionado pela pandemia da Covid-19.”

Tempestade imperfeita

Não raro, nesta época o ano, Itabira fica encoberta pela fuligem das queimadas

É assim que se tem em Itabira um cenário imperfeito, que tende a piorar nos próximos meses.

“É preciso implementar medidas para diminuir as queimadas, a poeira que vem das minas da Vale, assim como também a fuligem que se espalha junto com a fumaça gerada pela usina de ferro-gusa do Distrito Industrial”, relaciona a professora, referindo-se a outra fonte perigosa de poluentes que precisa ser monitorada e acompanhada pela Prefeitura.

“É preciso também que a população se conscientize para mudar a cultura de se fazer queimadas para limpeza de lotes ou para o preparo do roçado, uma técnica arcaica ainda comum na agricultura.”

Conforme explica a professora da Unifei, com as queimadas o solo fica mais infértil, diferentemente do que imagina o senso comum.

Fuligem e poeira na usina de ferro-gusa no Distrito Industrial precisam ser fiscalizadas pela Prefeitura com apoio da Feam

“As queimadas empobrecem o solo, acabam com a fertilidade ao matar os micro-organismos que fazem a decomposição da matéria orgânica, a reciclagem de nutrientes. Elimina potássio, fósforo, nitrogênio. E o agricultor vai ter que investir em adubo para fazer a correção do solo, muitas vezes sem o sucesso desejado”, acentua.

Além disso, as queimadas reduzem a umidade do solo e acabam por retirar a sua proteção, que são as raízes que seguram a terra. “É o que acaba provocando erosão e o assoreamento dos cursos d’água, que são também atingidos pelas cinzas das queimadas.”

O impacto ambiental é ainda maior quando o agricultor utiliza fertilizantes para corrigir o solo empobrecido pelas queimadas, quando os resíduos seguem também para os cursos d’água.  “Existem estudos mostrando que as cinzas das queimadas interferem na fotossíntese da planta ao depositar as fuligens nas folhas”, acrescenta a professora Ana Carolina.

Agravos à saúde precisam ser mais estudados
Gavião foge do incêndio florestal na região do Pontal

Além de empobrecer o solo, a saúde da população é super impactada pelas queimadas. “Liberam vários poluentes tóxicos”, adverte a professora Ana Carolina.

“Causa irritação nos olhos, no nariz, na garganta, nos pulmões. Impactam o sistema respiratório e também o cardiovascular. Pode levar a insuficiência cardíaca, além de agravar a saúde para quem tem asma, bronquite e outras doenças.”

Segundo a professora da Unifei, a exposição à fumaça por longo prazo, como é o caso em Itabira, que sofre com queimadas recorrentes, podem levar inclusive a morte prematura.

Queimadas empobrecem o solo, diferentemente do que imagina o senso comum entre os agricultores

“O material mais fino penetra no sistema respiratório e a gente não vê. As partículas liberadas pelas queimadas contém dióxido de carbono, um gás de efeito estufa que impulsiona também as mudanças climáticas”, acrescenta.

“É esse material inalável, e que a gente não vê, que penetra no sistema respiratório”, diz a professora, referindo-se ao PM 2.5, que começou a ser medido em dezembro pela rede automática de monitoramento da qualidade do ar. “São vários gases que resultam de uma queima incompleta, como o monóxido de carbono, oxido nitroso, dióxido de nitrogênio.”

Já a fuligem das queimadas, um material particulado mais grosso, libera partículas que são visíveis – e que também impactam a qualidade do ar com a emissão de hidrocarbonetos e dioxinas.

Tiu foge de incêndio na região do Pontal em direção a área não atingida pelo fogo

Parceria

Esses dados do monitoramento da qualidade do ar serão estudados e analisados a partir do próximo semestre, por meio da parceria que a Prefeitura firmou com Instituto de Ciência Puras e Aplicadas da Unifei. Pelo convênio, serão produzidos boletins periódicos explicativos sobre a qualidade ar em Itabira.

O objetivo da parceria é auxiliar a população na compreensão dos dados do monitoramento on line, que são disponibilizados de hora em hora pela rede automática de monitoramento –e que até então somente são divulgados nas reuniões mensais do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema).

Particulados

Poeira nas minas da Vale aumentam na estiagem e polui a cidade trazida pelos ventos fortes

Para combater a poeira em Itabira provenientes de suas minas, a Vale informa que faz, permanentemente, a aspersão de água em suas áreas operacionais e nas vias de acesso internas, por meio de caminhões-pipa.

Emprega também nebulizadores instalados em pontos estratégicos para diminuir a emissão de poeira sobre a cidade, além de garantir as condições de tráfego de veículos nas vias de acesso às minas e nas demais áreas operacionais, minimizando o arraste de poeira.

Informa que é feita ainda a aspersão de polímeros nos taludes expostos. “Além disso, em áreas expostas, sem previsão de operação, é realizado o plantio de gramíneas para a contenção de particulados (poeira).”

A mineradora mantém, em Itabira, a Rede Automática de Monitoramento da Qualidade do Ar, composta por cinco estações. “Quatro monitoram a qualidade do ar e uma delas é meteorológica, sendo que seus dados são consolidados conforme estabelece a Resolução Conama 491/2018.”

Os dados são coletados a cada hora pelas estações de monitoramento. E são recebidos simultaneamente pela Vale, Secretaria de Meio Ambiente/Codema e Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam).

Desde dezembro, é feito também o monitoramento das partículas inaláveis (PM 2,5), que são menores que 2,5 microgramas (µg), invisíveis e que penetram pelas vias respiratórias chegando aos pulmões.

São derivadas principalmente das queimadas e também das chaminés da usina de ferro-gusa instalada no Distrito Industrial – e que passam a ser agora também monitoradas em Itabira.

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