Diretor e diretor-adjunto da Unifei de Itabira anunciam renúncia a um ano do fim de seus mandatos
Nomeados pelo ex-reitor Dagoberto Alves de Almeida, mesmo eles tendo ficado em segunda colocação em uma consulta, realizada em 2017 entre professores e alunos para dirigir o campus da Unifei em Itabira, os professores José Eugênio Lopes de Almeida e Élcio Franklin Arruda anunciaram que irão renunciar aos cargos de diretor e diretor-adjunto, a cerca de um ano do fim de seus mandatos.
O anúncio da renúncia foi apresentado em relatório de gestão divulgado entre estudantes e corpo docente. “Estamos finalizando alguns assuntos, que esperamos terminem até o final deste mês de maio, quando solicitamos oficialmente à reitoria a nossa exoneração a pedido.”
Diretor e vice-diretor não apresentaram os motivos do pedido de exoneração. Uma fonte ouvida pela reportagem, que pede para não ser identificada, conta que por eles serem do grupo político do ex-reitor, os ainda dirigentes do campus local não teriam o mesmo prestígio junto ao atual reitor Edson da Costa Bortoni.
Bortoni foi nomeado reitor pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em dezembro de 2020, mesmo figurando em segundo lugar em uma lista tríplice, por “ser terrivelmente evangélico”, como tem sido a preferência do primeiro mandatário do país.
Em sua campanha para a reitoria, o reitor nomeado teria esquecido aberta a página de seu whatsapp com a montagem de um dossiê contra os seus concorrentes, que ele taxou de “esquerdistas.” Estudantes fizeram print da página e divulgaram na rede social. Leia aqui.
Carteirinha
O professor José Eugênio Almeida também seria bolsonarista de carteirinha, conta a mesma fonte. Mas isso não teria contribuído para estreitar o relacionamento com o atual reitor nomeado por Jair Bolsonaro.
Não foi suficiente para impedir o “expurgo” da direção local da Unifei, mesmo que os renunciantes digam que o afastamento dos respectivos cargos tenha sido por decisões pessoais.
Em 22 de setembro de 2018, o diretor fez postagem preconceituosa em relação aos universitários nas redes sociais, o que gerou nota de protesto dos estudantes.
Na postagem, Almeida publicou foto em sua página no Facebook com mulheres seminuas, com tarjas pretas cobrindo os seus órgãos sexuais, que teriam sido flagradas em ato de protesto na universidade.
E ele escreveu na postagem: “Esse é o nível das universitárias esquerdistas que (é) a favor da legalização do aborto e da maconha.”
Em nota de repúdio, assinada pela Representação Estudantil de Itabira e pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), lida na reunião do Conselho Universitário (Consuni), os universitários pediram a retratação do diretor do campus de Itabira
O diretor não se retratou, mas excluiu a polêmica postagem de sua página no Facebook.
“O primeiro ponto que levantamos é que consideramos a publicação extremamente machista e mentirosa, pois a imagem não traz nenhum elemento que leva a inferir sobre uma ligação com a esquerda, com a legalização do aborto e da maconha ou até mesmo que as mulheres da imagem tenham vínculo com alguma instituição de ensino superior”, afirmam em nota as entidades de representação estudantil.
“Ao compartilhar tal publicação, o senhor diretor compactua com a generalização de estereótipos infundados e mentirosos sobre o movimento feminista, sobre a esquerda e sobre as pessoas que defendem as lutas e as pautas antiproibicionistas, contribuindo para a perpetuação de ódio e preconceitos, além de ofender as mulheres, sobretudo as universitárias e funcionárias, que compartilham dos ideais que ele atingiu.” Leia aqui.
Antecedentes
José Eugênio Lopes e o seu adjunto Élcio Arruda não serão os primeiros a não concluírem os seus respectivos mandatos frente à direção do campus da Unifei em Itabira.
Eles sucederam o ex-diretor Dair José de Oliveira e o ex-diretor adjunto Márcio Tsuyoshi Yasuda que, em dezembro de 2017, renunciaram aos respectivos cargos.
A renúncia dos dois professores ocorreu depois de verem frustrada a proposta de realizar uma consulta pública entre professores, estudantes e funcionários para saber se queriam ou não a divisão do campus da Unifei/Itabira em unidades acadêmicas. E foram defenestrados pelo então reitor Dagoberto Almeida. leia aqui e aqui
Após a renúncia, a nomeação do professor José Eugênio Lopes, que estava como diretor interino, atropelou e desconsiderou os resultados de uma consulta realizada para a escolha do diretor-geral e do adjunto.
A partir daí, o clima ficou mais tenso no campus da Unifei em Itabira. “Novas retaliações podem ocorrer”, profetizou um estudante. E elas vieram com as punições acadêmicas de Oliveira e Yassuda. Leia aqui.
Mais uma vez a história se repete no campus da Unifei em Itabira, ainda não se sabe se como farsa ou real dissidência, com as renúncias previamente anunciadas dos professores José Eugênio Lopes de Almeida e Élcio Franklin Arruda de sua direção local.
Achei curioso o motivo da defenestração dos professores Dair José de Oliveira e Márcio Tsuyoshi Yasuda, em 2017, por, enquanto diretor e diretor-adjunto do campus Itabira da Unifei, terem proposto uma “consulta pública entre professores, estudantes e funcionários para saber se queriam ou não a [necessária] divisão do campus da Unifei/Itabira em unidades acadêmicas”.
O campus Itabira funciona afinal, do ponto de vista acadêmico, como uma dispensa ou anexo de segunda linha da Unifei Itajubá.
Se não tem o menor status universitário, nao cumpre os requisitos básicos de uma instituição acadêmica efetiva, a ponto de ser assim maltratado por reitores.
Ou seja, a única coisa a fazer é reivindicar a transformação do campus Itabira numa nova universidade, que poderia, inclusive, agregar unidades do IFMG em cidades próximas.